Valor Econômico: Petróleo de Vaca Muerta é uma das poucas boas notícias na Argentina

Vaca Muerta responde hoje por 25% da produção de petróleo da Argentina e pode chegar a 29% neste ano

Por Marsílea Gombata

SÃO PAULO, 25/02/2021 – Mergulhada em uma crise econômica que foi agravada pela pandemia, a Argentina tem em Vaca Muerta uma das poucas boas notícias atualmente. A região atingiu níveis recordes de produção de petróleo de xisto e viu crescer o número de abertura de poços. Analistas afirmam, contudo, que manter esse otimismo dependerá de ajustes macroeconômicos e de regras mais claras para as empresas.

Localizada na Província de Neuquén, Vaca Muerta responde por 40% das reservas de gás de xisto e 60% do total de petróleo não convencional da Argentina. Em dezembro, os campos alcançaram produção recorde de 124 mil barris/ dia (b/d) de petróleo, superando a marca anterior de 123 mil b/d, de março de 2020. Se esse ritmo se mantiver, a produção pode chegar a 150 mil b/d neste ano, segundo a consultoria Rystad Energy.

Em janeiro deste ano, o número de poços por fratura hidráulica cresceu 39% em relação a dezembro e dobrou em relação ao ano anterior. Eram 662 em janeiro, ante 477 em novembro, de acordo com relatório da S&P Global, com base nos dados da empresa NCS Multistage, com sede em Houston.

A atividade de fraturamento hidráulico em Vaca Muerta atingiu o maior nível em 17 meses. A estatal argentina YPF controla a maior parte da produção, em 382 poços, seguida por Vista Oil & Gas (111), Tecpetrol (39), Pluspetrol (31) e Pan American Energy (24).

“Essa melhora foi possível graças à alta do preço do petróleo no mercado internacional e à continuidade dos planos de investimento das empresas”, afirma Mauro Chavez, analista da consultoria Wood Mackenzie.

A produtividade dos campos de Vaca Muerta é atualmente comparável aos campos responsáveis pelo boom de xisto nos EUA. “Normalmente, um poço em Vaca Muerta é mais produtivo do que Permian ou Eagle Ford, nos EUA. Mas também é mais caro, porque a atividade fora da área de Loma Campana não é feita em escala e os custos com mão de obra, materiais e serviços são maiores na Argentina”, diz Artem Abramov, analista da Rystad.

“Mesmo assim, do ponto de vista de custos versus produtividade, Vaca Muerta já está no mesmo patamar do Permian. O desafio agora são novos projetos de infraestrutura para garantir o crescimento de longo prazo da produção”, continua.

Abramov afirma que Vaca Muerta responde hoje por 25% da produção de petróleo da Argentina e pode chegar a 29% neste ano.

Mas isso vai depender também de questões mais estruturais da Argentina. O reequilíbrio da macroeconomia – marcada por déficit fiscal de quase 10% do PIB, inflação anual de dois dígitos e controles de capital cada vez mais estritos – e um ambiente regulatório com regras claras são fundamentais, afirmam consultores.

“Há incerteza pelo lado macroeconômico e pelo político”, diz Mauricio Roitman, consultor e ex-presidente da Ente Nacional Regulador de Gás da Argentina (Enargas). “Temos desequilíbrios importantes na economia, estamos em um ano de eleições legislativas e não está claro o que pode acontecer, por exemplo, com a tarifa de gás. Serão fortemente subsidiadas ou acompanharão os preços do mercado? Não há muita previsibilidade.”

Soma-se a isso o fato de a maior parte da produção em Vaca Muerta estar nas mãos da estatal YPF, que se encontra em situação financeira complicada. No mês passado, a empresa chegou a um acordo com credores para reestruturar 60% de sua dívida, o que evitou que ela entrasse em default.

“Vemos com cautela essa melhora nos números de Vaca Muerta porque o contexto geral para atrair capital estrangeiro permanece muito desafiador na Argentina”, diz Rivaldo Moreira Neto, diretor da consultoria Gas Energy. “Sempre que se depende muito de uma estatal, tem-se uma injeção de recursos fortes, mas que tende a perder fôlego no longo prazo, se não for possível atrair investimentos estrangeiros de forma sustentada.”

Em contraste com a produção de petróleo em Vaca Muerta, a de gás de xisto caiu abaixo de 900 milhões de metros cúbicos em dezembro, pela primeira vez desde outubro de 2018. Em 2020 o número de novos poços de gás caiu 89% na região, ante 2019, segundo Chavez.

“Isso é reflexo de menos investimento. O governo congelou as tarifas para o usuário final, que estão há mais de 16 meses sem reajuste”, diz Chavez. “Isso acabou não compensando o investimento para explorar novos poços.” Ele afirma que o preço médio do gás no ano passado foi de US$ 2,5 / Btu, quando um preço mínimo para justificar o investimento teria de ser de US$ 3/ Btu.

A perspectiva, contudo, é que a produção de gás em Vaca Muerta também ganhe força com o Esquema Gas 2020-2023, de leilões para contratar distribuidoras, o que deve elevar o preço para US$ 3,4/ Btu.

Luciano Caratori, ex-subsecretário de Planejamento Energético no governo do ex-presidente Mauricio Macri, no entanto, vê com ceticismo o plano lançado em dezembro. “A resposta das empresas cobriu o mínimo, mas não será suficiente para todo o gás adicional que a Argentina precisa no inverno”, diz. No médio prazo, ele afirma, a Argentina precisa de mais infraestrutura para reduzir a dependência do gás externo.

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